terça-feira, 17 de março de 2009
segunda-feira, 16 de março de 2009
FILME "ENTRE OS MUROS DA ESCOLA"
Colegas,
Escrevo-lhes sob o impacto da surpresa, da dureza, e da magistralidade desse filme francês, ambientado em uma escola pública de um subúrbio parisiense, no qual retrata o cotidiano de uma classe de oitava série.
"Entre os Muros da Escola" ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes e disputa outros prêmios.
Como enfoca as peripécias de um professor de Francês, é oportuno vermos coletivamente e debatermos, pois apresenta certa semelhança em ser professor de Língua Portuguesa no Brasil.
Bégaudeau, o ator principal é professor de francês na vida real. Os alunos não são atores profissionais. Foram selecionados em ateliês de improvisação.
Retrata a nova sociedade francesa, onde miscigenação, desigualdade social e choque cultural confrontam os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade.
domingo, 15 de março de 2009
TURMA DE LETRAS - PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM
Apresento aos leitores deste Blog a turma de Licenciatura em Letras da Católica.
sexta-feira, 13 de março de 2009
OS MARACATUS DE CAPIBA
OS MARACATUS DE CAPIBA
Manuel Bandeira
Uma das mais fortes impressões que guardo do tempo da meninice foi o meu primeiro encontro com um maracatu. Era terça-feira gorda e eu ia para a rua da Imperatriz, no Recife, assistir de um sobrado à passagem das sociedades carnavalescas – Filomonos, Pás, Vassourinhas... De repente, na esquina da rua da Aurora, me vi quase no meio de um formidável maracatu. De que nação seria? Porto Rico? Cabinda Velha? Leão Coroado? Não me lembra. Dos melhores era, a julgar pelo apuro e dignidade do rei, da rainha e seu cortejo – príncipes, damas de honra, embaixadores, baianas.
Pasmei assombrado. Tudo o mais, em volta de mim, era carnaval: aquilo, não. Mas o que é que me fazia o coração pulsar assim em pancadas de medo? Analisando agora, retrospectivamente, o meu sentimento, creio que o motivo do alvoroço estava na música, naquela música que mal parecia música, – percussão de bombos, tambores, ganzás, gonguês e agogôs, num ritmo obsessor, implacável...
Mesmo de longe, lembro-me de certas noites em que, na velha casa de Monteiro, a virada trazia uns ecos do batuque, o ritmo dos maracatus que invocava.
Todas essas memórias dos meus oito anos, impagáveis como o cheiro entre-mar-e-rio dos cais da rua da Aurora, buliram em mim, mais vivas do que nunca, à leitura do livrinho, É de Tororó, primeiro de uma série, Danças pernambucanas, com o qual Arquimedes de Melo Neto, diretor da Editora da Casa do Estudante, acaba de enriquecer a nossa literatura musical.
A coleção é organizada e dirigida por Hermilo Borba Filho. Nesse primeiro volume, colaboram Ascenço Ferreira, o grande poeta do Nordeste, e Ariano Suassuna. Ascenço expõe a origem dos maracatus e como eles, destacando-se do grupo das festas dos Reis Magos (coroação dos reis das nações negras exiladas no Brasil), entraram para o Carnaval, como os temas de evocação da pátria perdida vieram sendo substituídos pelos de acontecimentos contemporâneos; e, finalmente, como eles têm degenerado no Recife por se afastarem da velha tradição. Ariano Suassuna escreve substancioso ensaio crítico sobre a obra de Capiba. Na verdade, o livrinho é uma coleção de maracatus de Capiba, ilustrada pelos estudos de Ascenço e Suassuna e pelos desenhos de Lula Cardoso Aires e Perci Lau.
Mas quem é Capiba? Capiba é o apelido de Lourenço da Fonseca Barbosa, pernambucano de Bom Jardim, criado na Paraíba, músico desde menino na banda regida pelo pai, o "professor Capiba". Quando voltou ao Recife, homem feito, foi para se tornar o compositor popular mais festejado com os seus frevos-canções, sambas, valsas e maracatus.
Informa-nos, porém, Suassuna, que Capiba não parou aí. Procurou transpor o popular para a música erudita. Assim, usou do ritmo do frevo no primeiro movimento de uma sua sonata para violoncelo e piano, escreveu toda uma série de Canções nordestinas onde se utilizou das formas englobadas no litoral sob o nome de "moda", e fixou temas da música negra em batuque e numa Suíte nordestina, esta última transcrita, depois, para orquestra por Guerra-Peixe.
Nada conheço de tudo isso. E mais – que mau pernambucano que sou! – ignorava o próprio nome de Capiba. No entanto, vejo que Suassuna dá como "a mais audaz e mais musicalmente perfeita" entre as canções do compositor nordestino aquela que tem por letra a tradução que fiz de um pequenino poema de Langston Hughes. O fragmento transcrito deixou-me com água na boca...
Dez são os maracatus de Capiba apresentados nesta coleção. Três letras são de Ascenço, as demais são do mesmo Capiba. De todos eles, o que me empurrou para mais perto da minha visão no cais da rua da Aurora foi Eh! Luanda! Reconheci longe nos acordes da mão esquerda aquele ritmo obsessor, implacável pressago a que me referi atrás. Está ele também, mas mitigado, quase caricioso, em É de Tororó, onde, no quinto compasso, há uma sétima abaixada que é uma pura delícia. Esses dois e mais Cadê os guerreiros e Onde o sol descamba, este com um tema que figura igualmente na Dança de negros de Camargo Guarnieri, são os que me pareceram mais originais. Todos, aliás, tem o mesmo sabor forte de Nordeste.
(Bandeira, Manuel. "Os maracatus de Capiba". Folha de Minas, 30 de agosto de 1958).
Manuel Bandeira
Uma das mais fortes impressões que guardo do tempo da meninice foi o meu primeiro encontro com um maracatu. Era terça-feira gorda e eu ia para a rua da Imperatriz, no Recife, assistir de um sobrado à passagem das sociedades carnavalescas – Filomonos, Pás, Vassourinhas... De repente, na esquina da rua da Aurora, me vi quase no meio de um formidável maracatu. De que nação seria? Porto Rico? Cabinda Velha? Leão Coroado? Não me lembra. Dos melhores era, a julgar pelo apuro e dignidade do rei, da rainha e seu cortejo – príncipes, damas de honra, embaixadores, baianas.
Pasmei assombrado. Tudo o mais, em volta de mim, era carnaval: aquilo, não. Mas o que é que me fazia o coração pulsar assim em pancadas de medo? Analisando agora, retrospectivamente, o meu sentimento, creio que o motivo do alvoroço estava na música, naquela música que mal parecia música, – percussão de bombos, tambores, ganzás, gonguês e agogôs, num ritmo obsessor, implacável...
Mesmo de longe, lembro-me de certas noites em que, na velha casa de Monteiro, a virada trazia uns ecos do batuque, o ritmo dos maracatus que invocava.
Todas essas memórias dos meus oito anos, impagáveis como o cheiro entre-mar-e-rio dos cais da rua da Aurora, buliram em mim, mais vivas do que nunca, à leitura do livrinho, É de Tororó, primeiro de uma série, Danças pernambucanas, com o qual Arquimedes de Melo Neto, diretor da Editora da Casa do Estudante, acaba de enriquecer a nossa literatura musical.
A coleção é organizada e dirigida por Hermilo Borba Filho. Nesse primeiro volume, colaboram Ascenço Ferreira, o grande poeta do Nordeste, e Ariano Suassuna. Ascenço expõe a origem dos maracatus e como eles, destacando-se do grupo das festas dos Reis Magos (coroação dos reis das nações negras exiladas no Brasil), entraram para o Carnaval, como os temas de evocação da pátria perdida vieram sendo substituídos pelos de acontecimentos contemporâneos; e, finalmente, como eles têm degenerado no Recife por se afastarem da velha tradição. Ariano Suassuna escreve substancioso ensaio crítico sobre a obra de Capiba. Na verdade, o livrinho é uma coleção de maracatus de Capiba, ilustrada pelos estudos de Ascenço e Suassuna e pelos desenhos de Lula Cardoso Aires e Perci Lau.
Mas quem é Capiba? Capiba é o apelido de Lourenço da Fonseca Barbosa, pernambucano de Bom Jardim, criado na Paraíba, músico desde menino na banda regida pelo pai, o "professor Capiba". Quando voltou ao Recife, homem feito, foi para se tornar o compositor popular mais festejado com os seus frevos-canções, sambas, valsas e maracatus.
Informa-nos, porém, Suassuna, que Capiba não parou aí. Procurou transpor o popular para a música erudita. Assim, usou do ritmo do frevo no primeiro movimento de uma sua sonata para violoncelo e piano, escreveu toda uma série de Canções nordestinas onde se utilizou das formas englobadas no litoral sob o nome de "moda", e fixou temas da música negra em batuque e numa Suíte nordestina, esta última transcrita, depois, para orquestra por Guerra-Peixe.
Nada conheço de tudo isso. E mais – que mau pernambucano que sou! – ignorava o próprio nome de Capiba. No entanto, vejo que Suassuna dá como "a mais audaz e mais musicalmente perfeita" entre as canções do compositor nordestino aquela que tem por letra a tradução que fiz de um pequenino poema de Langston Hughes. O fragmento transcrito deixou-me com água na boca...
Dez são os maracatus de Capiba apresentados nesta coleção. Três letras são de Ascenço, as demais são do mesmo Capiba. De todos eles, o que me empurrou para mais perto da minha visão no cais da rua da Aurora foi Eh! Luanda! Reconheci longe nos acordes da mão esquerda aquele ritmo obsessor, implacável pressago a que me referi atrás. Está ele também, mas mitigado, quase caricioso, em É de Tororó, onde, no quinto compasso, há uma sétima abaixada que é uma pura delícia. Esses dois e mais Cadê os guerreiros e Onde o sol descamba, este com um tema que figura igualmente na Dança de negros de Camargo Guarnieri, são os que me pareceram mais originais. Todos, aliás, tem o mesmo sabor forte de Nordeste.
(Bandeira, Manuel. "Os maracatus de Capiba". Folha de Minas, 30 de agosto de 1958).
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